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O Pai Natal, a gravata e a batata

por Thiago Fonseca.

 

Sempre que se aproxima o final-do-ano em todo  o mundo se antecipa a chegada do Natal.

Não importa de que religião seja.

Para os cristãos é o espírito natalício, noutras religiões, comerciantes embelezam as lojas com gambiarras e decorações de natal para chamar a  atenção para as vendas.

É um fenómeno global.

E o Pai Natal é a grande figura.

Um velhinho simpático, barbudo que vive no Pólo Norte, vem do gelo e da neve no seu trenó, desce pelas chaminés e distribui prendas.

Enquanto pesquisava a origem do Pai Natal ocorreram-me  alguns pensamentos: em Moçambique não há chaminés. Não há lareiras.

Então como o Pai Natal faz?

Continuei a ler sobre as origens do Pai Natal e aprendi  que originalmente, antes de ser conhecido pelas prendas, o Pai Natal trazia lenha para as casas no Inverno. Daí, a ideia de descer pela chaminé.

Em Moçambique, o Dia de Natal, conhecido como o Dia da família oficialmente, acontece agora no pico do verão.

As temperaturas chegam a atingir ou mesmo a ultrapassar os 40 graus centígrados.

Todos os anos, em estabelecimentos comerciais alguém tem de se vestir com o famoso fato vermelho.


Colocam-se barbas feitas de algodão ou não, o gorro, as  botas e no calor intenso passam o dia como se estivessem dentro de uma sauna a suar.

Não desejo a ninguém que passe por essa tormentosa experiência.

Mas o ponto aqui, é que o Pai Natal é um fenómeno exportado pela globalização e importado em todo o mundo.

Sei que estou a escrever para adultos.

 

Por isso não tenho qualquer receio em dizer isto sem correr qualquer risco de o desapontar:

O Pai Natal não existe.

É uma ideia importada.

Outra é a gravata.

Nunca usei gravata com regularidade.

 

Apenas uso no inverno de Moçambique em alguns dias nos  meses mais frios. E até gosto porque me dá conforto.

E é inquestionavelmente elegante.

É uma espécie de um cachecol mais apertado.

Pesquisei também sobre a origem da gravata.

Mais uma vez, a gravata que é um hoje um dos principais elementos do traje masculino formal teve o seu início na Europa como fardamento do exército Francês. Era um laço grande que quando enrolado à  volta do pescoço protegia as tropas do frio.

A gravata foi evoluindo até aos dias de hoje, tornou-se um elemento indispensável em qualquer maneira de vestir formal.

E pode ser um elemento muito bonito sem dúvida.

Mas, em Moçambique, assim como em qualquer País onde faça muito calor, a gravata aperta.

Quem a usa fica condicionado ao ar-condicionado.

Tem de sair do seu carro onde tem ar-condicionado  para o escritório onde tem ar-condicionado e finalmente  chegar a sua casa ao final-do-dia onde também tem ar-condicionado para no momento mais prazeroso desapertar a gravata.

Quem usa gravata fica condicionado como o ar.

Eu não quero dar um nó aqui e criar controvérsias.

Pretendo apenas marcar um ponto importante no marketing e na globalização que afecta tudo nas nossas vidas:

Importar e o que de facto importa.

Já é hora de nos importarmos.

Na verdade, é hora de exportar e não de importar.

É hora de produzir.

É hora de Moçambique exportar a sua marca e as suas  marcas para o mundo.

Marcas locais. Produtos locais. Serviços locais. E a sua própria marca: o local.

Fazer o mundo sentir o que Moçambique tem de melhor em  todos os sentidos.

É o momento de produzirmos para abastecer o consumo  interno e o suficiente para exportar.

É hora de não fazermos economia para comprar bens importados e exportarmos para o bem da nossa economia.

É a hora de potenciar tudo o que é  moçambicano e dar a conhecer essas enormes riquezas internamente e ao mundo.

É hora de trabalhar. Mas para isso, temos de abrir as portas e as fronteiras.

As primeiras são as das nossas próprias cabeças.

Outra ideia importada e globalizada foi a batata.

Que assim como a gravata é um fenómeno global.

A batata foi descoberta na América Central pelos  navegadores e exportada para todo o mundo.

Mas pergunte a qualquer nutricionista e vai ver que o aconselhará a parar de comer batata.

Então porquê importar batata, se na terra temos batata-doce, mandioca, muito mais e muito mais saudável.

O que é local é mais saudável para o bolso também porque o que é importado custa muito mais.

Ninguém resiste à batata frita.

Mas a batata foi batota.

A humanidade estaria melhor servida nas mesas e nas  mentes se nós nos importássemos com o que de facto é  mais saudável.

Desde sempre que olho para o mundo com interrogações.

Sempre fui contra o statos quo.

E sempre questionarei qualquer tipo de assunto.

O normal no mundo é mudar.

2020 deixou isso bem claro.

Na vida a única coisa constante é a mudança.

Por isso, quando  for  comprar  a  prenda  de  natal  para  a  sua mulher e para os seus filhos, de gravata em Dezembro,  sair do conforto do ar-condicionado do seu carro num dia  em que possam estar 40 graus e passar por um homem vestido de Pai Natal à porta da loja ou de um Shopping, mergulhado em suor, mergulhe num  pensamento.

As ideias que compramos importam ou são importadas?

O Pai Natal, a gravata e a batata

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    Thiago Fonseca - Chief Creative Officer and Partner of Agência GOLO / CEO of Grupo LOCAL Mozambique

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