por Thiago Fonseca.
Um iceberg é um pedaço de gelo que se desprende de um glaciar e flutua livremente pelo oceano. Normalmente, o que se vê de um iceberg é uma pequena parte do mesmo, menos de 10%, a que está fora de água. A maior parte está submersa. E é deste modo que a maioria das marcas vê Moçambique: apenas o que está à tona e ignora-se tudo o resto.
Um iceberg é um enorme pedaço de gelo e também sinónimo de frieza, de indiferença e insensibilidade. Apenas as marcas que respeitam o mercado local também serão respeitadas. E, com isso, conseguirão ter mais resultados.
Quem quiser compreender o país em profundidade tem de mergulhar bem no fundo.
É fácil olhar e acreditar no que os olhos vêem, no que está à vista.
O difícil é compreender o que não se consegue ver.
Moçambique, tal como um icebergue, há séculos que se despendeu do continente. É uma ilha cultural, rodeada de países de língua inglesa e de influência anglo-saxónica, com características únicas que foram preservadas. Por isso, as marcas que actuam neste mercado têm de ter em conta tudo o que é específico e só existe neste país.
Porque o lugar teve uma história muito diferente.
É por isso que costumo dizer que Moçambique é uma espécie de África Latina.
Adicionam-se à mistura todas as outras influências locais e condimentos que moldaram a cultura, como a influência do Oriente antes do século XV. Isto pode ser comprovado pelo próprio nome do país, que vem do comerciante árabe Mussa-Bin-Bique, que viveu na Ilha de Moçambique antes de os navegadores portugueses aí chegarem.
Mas, acima de tudo, o que torna o país único é cada moçambicano.
UMA ILHA CULTURAL
A maior parte do iceberg está submersa, mais de 90%. E essa parte corresponde à cultura.
No entanto, para conhecer é preciso aprofundar. Porque a cultura é crucial para quem quer comunicar e conseguir intimidade. Pode-se importar quase tudo, desde produtos em contentores a ideias de negócios, mas a cultura não se importa.
Os estudos de mercado apenas mostram o que está à vista. Tiram-se fotos de satélite do icebergue e partilham-se em documentos que, na indústria do marketing e da comunicação, se chamam pesquisa. Com esses documentos tomam-se decisões determinantes para as marcas.
E esta é a cultura de trabalho de muitos anunciantes.
É difícil pesquisar o que não está à vista.
Só quem arrisca e mergulha mais fundo pode ver o tamanho do que não se consegue ver.
O marketing em Moçambique pode ser comparado a um icebergue também pela frieza com que a maior parte dos anunciantes lida com a sua comunicação: muito pragmática, baseada em ofertas racionais, falam bem de si próprias.
Ignoram a skip generation.
O lado quente, emocional, mais humano, não é frequentemente levado em conta.
Tudo o que faz derreter o coração e leva a que nos apaixonemos por algo.
As marcas que navegam pelo mundo e têm Moçambique na sua rota precisam de compreender que as decisões são mais emocionais do que racionais.
Isto é válido no primeiro mundo e muito mais aqui.
Um icebergue também é uma espécie de ilha flutuante que segue o seu caminho no vasto oceano e vai mudando de forma.
Ou seja, não basta conhecer o Moçambique que já foi entendido.
Há um novo Moçambique a acontecer todos os dias que precisa de ser percebido.
É um país jovem, com uma população que cresce exponencialmente e maioritariamente jovem, que tem acesso à informação como nunca.
Um lugar que nas últimas décadas passou por muitas mudanças e desafios.
IMPORTAR O QUE IMPORTA
Há uma característica que se destaca num moçambicano : o modo feliz e optimista de ser e viver o momento.
Se viajar pela região poderá sentir a boa energia das pessoas.
Um moçambicano é assim porque não teve outra opção. É feliz por falta de escolha.
Perante tudo aquilo por que já passou, incluindo a recente crise económica, não lhe resta outra opção a não ser encarar o futuro com um sorriso, viver o momento e acreditar que o amanhã será melhor.
Poucas marcas tocam nesta tecla e a maioria das que chegam a Moçambique têm ideias preconcebidas e fórmulas que consideram mais avançadas mas, na verdade, são mais atrasadas.
Não percebem que o consumidor moçambicano é diferente do cidadão que nasceu em Nova Iorque, Paris ou Tóquio.
Aí, as pessoas estão expostas a uma enorme quantidade de marcas que anunciam todos os dias, mas os moçambicanos não.
Por isso, há uma grande oportunidade para as marcas se posicionarem de um modo responsável e penetrarem na mente e no coração dos consumidores.
Talvez porque as marcas não dão a devida importância a isto, ou não sabem, a maioria é superficial : importam fórmulas sem se importar.
Por isso ficam mais expostas e vulneráveis a outras que fizeram um trabalho em profundidade.
O país é, de facto, a pérola do Índico para muitos investidores do mundo.
Com um potencial de crescimento enorme e estabilidade, é o local para estar.
Contudo, construir marcas fortes leva tempo.
É um trabalho a médio e longo prazo.
É preciso comunicar conteúdos com calor humano.
Caso contrário, os consumidores ficam indiferentes e sentirão frieza em relação à sua marca.*
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Thiago Fonseca - Chief Creative Officer and Partner of Agência GOLO / CEO of Grupo LOCAL Mozambique
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