top of page
Não sabia

por Thiago Fonseca.

 

A Dona Germénia tinha chegado de uma viagem com os filhos a Chimoio.

 

Estava a voltar para casa e para o marido.

 

Há anos que tinha casado com um agricultor estrangeiro que investiu em plantações na zona centro de Moçambique, perto de Catandica.

 

O marido, o Senhor Mike, não fala uma única palavra de português.

 

Nem de dialecto local. Só mesmo inglês e afrikaans.

 

Mike, feliz com o regresso da família e muito entusiasmado para mostrar a surpresa que tinha para eles, gritou:


- Não Sabia! Não sabia! (Assobiava a chamar).


Dona Germénia olhou para o marido, a estranhar.


Mike continuava a chamar:


- Não Sabia! Não sabia!


Um cão veio a correr ao encontro dele.


A esposa perguntou a Mike:


- Não sabia ?


- That’s his name -, respondeu Mike.


- Não Sabia? -, perguntou a esposa.


- Yes, Não Sabia. I asked the guard. He told me.


A esposa, muito confusa, chamou o guarda da farm e perguntou-lhe o que se estava a passar. Que nome era aquele ...


O guarda, o velho Filimone, por sua vez, era de Chimoio. Também não falava português, apenas um pouco de inglês. O suficiente para se entender com o Senhor Mike.

 

Ele respondeu-lhe prontamente em ndau, a sua língua materna, que Germénia entendia.


- Senhora, o patrão Mike perguntou o nome do cão e eu respondi “Não sabia”!


- Mas quem trouxe o cão?


- Senhora, me entregaram assim com esse nome.


- Quem entregou?, perguntou.


- O pastor Jonas que trouxe o cão. Perguntei-lhe e ele disse “Não Sabia”.


E assim ficou o nome do cão até hoje: Não Sabia. Um cão simpático que se dá pelo nome.

 

É só chamar Não Sabia! E ele vem logo.

 

Esta é uma estória verídica.

A verdade local.


A estória de Não Sabia também é a história do percurso de muitas marcas e anunciantes globais. Que chegam, e vão chegar, ao mercado moçambicano sem saber como fazer e não sabem a importância do pensamento local no marketing.


Num mundo onde os negócios são globais, o local nunca foi tão importante.

 

Não basta fazer pesquisas superficiais e perguntar a um local pelas direcções certas.

 

Corre-se o maior risco, o de ser dita a verdade: Não sabia. E de essa verdade ser interpretada por empresas globais que não sabiam e ser a tese fundamentada com a comprovação de documentos e relatórios de pesquisa para a aprovação de coisas que não sabem que não funcionam.


As marcas globais têm de ser locais. Ter uma enorme sensibilidade. Saber que os consumidores confiam nas big global brands mas localmente valorizam mais as relações baseadas na sua comunidade.


De nada adianta fazer um road show de eventos a gritar a marca se esta se chamar Rabo Bank ou a Bosta Technics da Holanda ou a cadeia de restaurantes chineses Xi-Xi.

 

E por aí fora.


Os melhores modelos de negócio baseiam-se nas melhores práticas globais desde que tenham raízes profundas nos insights da cultura local.


O marketing tem de imitar a vida. Nunca se sai de fora para dentro. Sai-se de dentro para fora.


Isto que parece lógico na linguagem, aplica-se à globalização.


Há poucos anos, Moçambique não sabia o quão rapidamente o mundo inteiro iria chegar à nossa ilha cultural isolada no Sudeste de África.


Com a descoberta das riquezas minerais, o mundo já está a chegar a Moçambique.


A pergunta que se coloca é se iremos fazer com que Moçambique chegue ao mundo.


Se estas oportunidades de que as pessoas não sabiam podem ser a grande oportunidade para “vender” a marca Moçambique à escala global e todos os seus aspectos positivos que pode ter.


Comunicar a moçambicanidade através de todas as comunicações de marketing.


O marketing tem de imitar a vida. Nunca se sai de fora para dentro. Sai-se de dentro para fora.


Hora de saber.


Porque com isso, as marcas locais ganham. A economia ganha.


Cada moçambicano poderá gritar sem precisar de levantar a voz e dizer com orgulho: sou moçambicano.


Sempre foi sabido que uma grande campanha muda o astral de uma empresa. Motiva os funcionários. Faz com que os consumidores ganhem admiração, gera uma onda de energia positiva com resultados imensuráveis.


O mesmo se aplica à marca de um país.

 

Uma grande campanha pode mudar o astral de Moçambique.

 

Internamente e a nível global.


Essa grande campanha é a soma de todas as campanhas feitas por cada marca local e global que actua no território nacional.


A estória de Não Sabia, um cão simpático e afável, serve como metáfora para os riscos que correm as marcas que não dão a devida importância à enorme profundidade da cultura local em todos os seus aspectos.


Hoje, Não Sabia tem quase 14 anos.

 

Está numa idade avançada.

 

E passou a vida toda assim.

 

Não sabia.

 

Nem nunca vai saber.


Não deixe que o mesmo aconteça com a sua marca.

Não sabia

SKU: 0001
    AP7I3294 FINAL1B.jpg

    Thiago Fonseca - Chief Creative Officer and Partner of Agência GOLO / CEO of Grupo LOCAL Mozambique

    bottom of page