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Confie nas pernas

por Thiago Fonseca.

 

Em Moçambique o mercado é maioritariamente informal.


A expressão “confie nas pernas” é uma tradução quase directa de “dumba-nengue”. Dumba é o nome que se dá aos grandes mercados informais onde o comércio acontece.


​Para a categoria de FMCG, em inglês os chamados “fast moving consumer goods”, ou bens de consumo, o mercado informal torna-se ainda mais relevante.

 

Para muitas marcas neste segmento, mais de 90% das suas vendas realizam-se no mercado informal e não nas grandes plataformas que começam a surgir, sobretudo na capital, Maputo.


​O termo “dumba-nengue” surgiu inicialmente porque estes mercados são diariamente montados e desmontados nos passeios.

 

Quando um polícia municipal aparece, o vendedor tem que confiar nas suas pernas e correr. Mas dá a volta à esquina e encontra outro lugar para vender.


​Actualmente já existem dumbas fixos.

 

E daí evoluíram das bancas para as famosas barracas de que os marqueteiros tanto falam em Moçambique.


​Contudo, todos os dias continuam a aparecer novos mercados para satisfazer as necessidades de consumo.

 

São os dumbas espontâneos, que são montados no próprio dia. Por exemplo, aos fins-de-semana junto à praia ou em determinadas épocas.

 

Por todo o país. Onde houver necessidade, há venda.


​A questão é eu a economia moçambicana é, sobretudo, informal. No entanto, muitos anunciantes não compreendem a sua verdadeira dimensão.

 

E, por outro lado, também não sabem como lidar com este facto.


​Os anunciantes precisam, acima de tudo, de correr muito, de usar as pernas, se quiserem acompanhar o verdadeiro e real Moçambique.


​Isto tem a ver com o estado de desenvolvimento social mas também é uma questão cultural.


​Infelizmente, hoje em dia a tendência que se verifica continua a ser a de importar estratégias e fórmulas de outros países.

 

Os produtos podem ser importados, mas a cultura não.


​Dá-se demasiada importância às activações no ponto de venda mas estas cobrem nichos extremamente pequenos. Quanto custaria fazer activações de modo a abranger todo o país? ​

 

Os censos dão algumas respostas.
 
CENSO E BOM SENSO
 
​O último censo realizado no país, em 2017, revela que Moçambique está a crescer.

 

A economia pode não ter crescido como todos desejavam, mas o país cresceu.


​Somos mais de 29 milhões de pessoas.


A província mais populosa é Nampula, com mais de seis milões de habitantes, seguida da Zambézia, com cerca de cinco milhões. Maputo e as restantes províncias têm cerca de um a dois milhões de habitantes cada uma.


​A província de Maputo tem dois milhões de habitantes. No entanto, para muitas marcas representa quase 80% do mercado nacional. Moçambique tem uma área de 800 mil quilómetros quadrados e Maputo representa apenas 4% do território.

 

Com números como estes à nossa frente, podemos chegar a muitas conclusões.


​O mercado é limitado?

 

Ou, em alternativa, são as oportunidades de crescimento que não têm limites?


​Esta realidade económico-social é comprovada pelas vendas das marcas mais activas, mas também por outros indicadores. Como o número de utilizadores das redes sociais, por exemplo. Dos dois milhões de moçambicanos no Facebook, 1,3 milhões estão em Maputo.


​Se a economia são números, de certeza que estes números são muito importantes para analisar a economia local.


​A idade média dos moçambicanos é significativamente baixa e situa-se nos 17 anos.

 

A expectativa média de vida também, entre os 47 e os 55 anos.


​Setenta por cento do público-alvo economicamente activo entre os 18 e os 35 anos, e este parece ser aquele que todas as marcas querem atingir. Os chamados millennials.


​Mas há muito mais.


​Somos uma “ilha” cultural na região, rodeada por países de língua inglesa e outros hábitos e influências.


​As religiões também descrevem bem a diversidade : 28% são católicos, 18% muçulmanos e 16%  ziones.


​Moçambique é como uma capulana, com várias cores e inúmeros padrões.


​Estes factos são muito importantes para qualquer marca que queira comunicar no país.


​A maior parte dos novos anunciantes, e mesmo muitos dos actuais, só consegue ver o que está à superfície : pesquisas e análises ao país apenas revelam a ponta do icebergue. É o que está debaixo da superfície, a cultura, que é tudo.


​A língua oficial é o português, mas temos mais de 25 línguas maternas com variantes de vila para vila. O moçambiquês, com todas as suas expressões entendidas de norte a sul, é que é de facto a língua oficial para a comunicação.

 

O país é enorme. Tem 2.700 quilómetros de costa.

 

E maiores ainda são as oportunidades que existem.


​Por isso, é hora de investir na sua marca.

 

Estamos num momento muito especial da história do país e da nossa economia.
 
O ESTADO DAS MARCAS
 
Enquanto muitos recuam, e alguns já recuaram, as marcas que correrem agora são as que irão longe.

 

2018 já começou.

 

Com grande ansiedade por parte dos empresários e anunciantes para que seja um ano em que a economia cresça. Mas são as ansiedades dos consumidores que têm de ter prioridade.


​Qual o estado de espírito da sociedade após os últimos três anos?

 

Qual o estado das marcas, começando pela própria marca Moçambique?


​As marcas que souberem tocar nos botões certos, que souberem responder às aspirações e ambições das novas gerações ou as que oferecerem esse presente tão desejado, são as marcas com futuro.


​Os moçambicanos são um povo irremediavelmente optimista. Depois de tudo o que o jovem país já passou, essa é a única opção que existe.


​Há um enorme respeito pelas tradições, mas neste momento também uma enorme vontade de que o novo futuro chegue a correr. E essa vontade é enorme.

 

Há pressa.


​Já não se quer dar apenas passos no bom caminho.

 

Todos querem correr de modo a realizarem rapidamente os seus sonhos.


​Por isso, se quer que a sua marca resulte em Moçambique, é melhor trabalhar a toda a velocidade para acompanhar as mudanças. Para não ter de correr atrás, comece já a correr.


​Confie nas suas pernas.

Confie nas pernas

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    Thiago Fonseca - Chief Creative Officer and Partner of Agência GOLO / CEO of Grupo LOCAL Mozambique

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