por Thiago Fonseca.
Este texto é sobre uma marca que coloca todas as outras no chinelo.
A empresa Alpargatas lançou os chinelos Havaianas originalmente no Brasil.
O produto pegou.Os consumidores pegaram nele com a mão e puseram no pé.
O case da marca de chinelos Havaianas é um dos maiores cases de marketing e mereceser contado e estudado.
No início, a sandália de borracha, simples mas de qualidade,era conotada como o chinelo para os pobres.
Para a classe baixa.
A expressão pé-de-chinelo vigorava e era um desafio para as ambições que as Havaianas tinham.Mas com trabalho consistente ano após ano, a marca foi sendo posicionada como algo mais.
Oferecia a liberdade de um estilo de vida de praia, informal, brasileiro.E com perícia, usando as novelas e, sobretudo, as extraordinárias campanhas publicitárias
que se tornaram icónicas, alcançou e calçou todas as classes sociais.
As vendas aumentaram e a marca cresceu.
No entanto, o produto era fácil de ser igualado.Afinal, não passava de um simples chinelo de borracha.
Outras empresas viram o potencial e iniciaram a sua produção.Mas focaram-se no produto e não na marca.
Prova disso foi que chegaram até a falsificar chinelos com a marca Havaianas.Nessa fase foram lançadas campanhas com o tema “as legítimas” para resolver esses problemas.
Usando actores famosos das novelas da Globo para fazer o endorsement,as Havaianas tornaram-se icónicas.
A marca vendeu campanha após campanha o lifestyle de liberdade, praia, surf e Brasil.Não vendeu o produto. Vendeu o sonho.
UM PRODUTO DE SUCESSOÉ PRODUTO DO SUCESSO DE UMA MARCA
De certo modo, as Havaianas tornaram-se moda.
As pessoas que vivem londe das praias, no interior e nas cidades, compram Havaianasporque estão a comprar a ideia desse lifestyle.
Não estão a comprar o produto. Compram a sensação.
E isso é a marca.
Por isso a marca é tão mais importante que o produto. É uma ideia.
Mas também houve inovação no produto.
Em cores diferentes, estampas.
As Havaianas nunca pararam de dar passos enquanto os anos passam.
Mas nunca sem desafios.
E neste aspecto, o Brasil e Moçambique podem ser comparados.
Os dois países são mercados emergentes e não estão imunes a crises económicas.
Mas a marca Havaianas nunca parou de vender, nem de comunicar.
Por isso não saiu nem da cabeça nem dos pés dos consumidores.Continuou a caminhar, e andou tanto que atravessou as fronteiras do Brasil.
Está no pé e na boca de todo o mundo.
Desde Londres a Paris, de Nova Iorque a Tóquio, onde quer que vá irá encontrar Havaianas.
O planeta ajoelhou-se aos pés desta marca. Até que recentemente deu o maior passo de sempre.
Deixou de ser apenas um chinelo.
Em 2017, a marca, já muito mais forte que o produto, lançou mundialmente tudo o que se pode imaginar que tem conotação com o seu posicionamento.
Hoje, ao entrar numa loja das Havaianas poderá ver que a marca já subiu dos pés à cabeça.
Além da gama enorme de chinelos de todos os tipos, vende óculos de sol, toalhas de praia, roupas, calções, fatos de banho, tudo o que possa imaginar associado ao lifestyle que promoveu durante décadas.
E o público faz filas. Não entra na loja ao lado que vende calções semelhantes.
Quer calções com a marca Havaianas.
Este é o poder das marcas.
É o poder do marketing. Criar esta fama, confiança e relação com as pessoas.
Este case serve de exemplo para o mundo inteiro, mas principalmente para Moçambique.
Porque, no fundo, as Havaianas vendem o Brasil.
A ideia que se tem de um estilo de vida.
Mesmo que a maior parte dos consumidores nem chegue a pisar a areia, ao pisar o alcatrãocom um par de Havaianas tem a sensação que a marca promete e oferece.
O Brasil ultrapassou diversas crises políticas, além das económicas.Desde Collor de Melo aos recentes casos dos governos de Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.
Até nisto as Havaianas ajudam o Brasil. Projectam uma imagem de um outro País que atenuaessa outra menos boa.
Com certeza a marca contribui decisivamente para a promoção do turismo no Brasil.
Uma das maiores fontes de receita para a economia Brasileira.
Isto tudo faz qualquer um reflectir sobre como um simples chinelo de borracha conseguiu tanto.
No entanto, a explicação é uma.
É muito mais que um produto. É uma marca.
A MARCA VALE MAISQUE O PRODUTO
Ao abrigo da marca pode vender-se qualquer coisa após se ter vendido a percepção,conquistado a confiança e criado intimidade.
A lição fica clara. Para se construir uma marca forte é preciso colocar o pé no chão, dar passos firmes.
No fundo, o que quero dizer aqui é que uma marca local até pode ajudar a mudar a percepção de um país e contribuir para a sua imagem, tanto a nível local como mundialmente.
Analisar o case das Havaianas é entender o poder,a importância e o papel que uma marca local pode ter.
Quantas marcas como as Havaianas podem nascer em Moçambique?
E, sobretudo, ajudar a vender o próprio País.
Trazer receitas para o turismo, agora local, que faz mexer tão decisivamente com a economia.
Em todos os países fazem-se chinelos. Desde sempre.
Mas Havaianas, “made from Brazilian lifestyle” como a marca comunica actualmente,só as legítimas do Brasil.
É preciso seguir este caminho entendendo que podem existir produtos semelhantesem todos os lugares, mas marcas não.
É como os tecidos. Em todo o mundo há pano, no entanto em Moçambique há a capulana.
Uma marca local como esta pode dar pano para mangas.*
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Thiago Fonseca - Chief Creative Officer and Partner of Agência GOLO / CEO of Grupo LOCAL Mozambique
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